Jean Piaget e Lev Vygotsky: Processo de construção de conhecimento e aquisição da linguagem





É possível evidenciar algumas relações entre as duas teorias direcionadas ao processo de construção de conhecimento e aquisição da linguagem.
Jean Piaget (1896 – 1980), com a Epistemologia Genética e sua teoria cognitivista/construtivista.
 Levy Vygotsky (1896 – 1934), com a Perspectiva Histórico-Cultural e sua teoria interacionista.
Acredito  que embora os pensadores sejam contemporâneos, viveram em contextos bem diferentes que os levaram a pensar o desenvolvimento humano sobre diferentes visões.
Torna-se claro  que os dois autores afirmam a ação do meio social e cultural na explicação do desenvolvimento do pensamento infantil, pois para os dois a evolução do pensamento da criança se explica pela ação de fatores exógenos sobre os processos endógenos: Piaget pelos processos de centração–descentração e Vygotsky pelos processos de interiorização da linguagem.

Jean Piaget foi um pesquisador suíço que se interessou em analisar como surge e evolui o conhecimento. Sua formação inicial em biologia o levou a considerar impossível separar o crescimento orgânico do processo de desenvolvimento psicológico da criança. Isso refletiu na sua Epistemologia Genética do Desenvolvimento, na qual estabeleceu uma divisão em estádios cognitivos pelos quais todos os seres humanos passam e que evoluem em sequência. Esses estádios cognitivos ou de desenvolvimento são quatro: sensório-motor (0-2 anos), pré-operatório (2-7 anos), operatório-concreto (7-11 anos) e operatório-formal (11-16 anos), que são caracterizados por uma forma de agir e de pensar e são apontados por Piaget para compreender as diferentes maneiras de pensar da criança, nas diversas faixas etárias. Sendo que a indicação das idades para cada fase é apenas um parâmetro, pois nem sempre o desenvolvimento ocorre no mesmo ritmo, podendo variar de criança para criança.
Sendo assim o processo de desenvolvimento depende de fatores internos que são processos mentais, depende da maturação e das experiências com o meio, sendo que isso se dá pelo equilíbrio, que seria a organização de atividades mentais a partir dos conflitos cognitivos que temos com o meio.
Segundo Piaget o mais importante da atividade inicial do indivíduo é o conceito de egocentrismo como processo de centração, o que não teria sido considerado pelo psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky (PPT, 2018).
 A direção da evolução do pensamento depende da relação entre os indivíduos, pois as transformações funcionam como superação dos processos de centração e das estruturas previas. Por isso, o conceito de socialização para Piaget exige levar em conta uma forma particular de relação, na qual os parceiros, para se comunicarem, precisam perceber ou levar em conta o ponto de vista do outro.
Assim, o conceito de relação social segundo Vygotsky não estaria considerando a diferença fundamental entre o caráter centrado ou descentrado das relações entre os indivíduos.
Em relação aos conceitos espontâneos e não espontâneos, existem mais aproximações que divergências entre os autores. Apesar disso, o que diferencia os dois autores é que a evolução dos conceitos para Vygotsky obedeceria à generalização perceptiva e não à generalização operatória, como sugere Piaget, o que permite revelar opções epistemológicas sobre a origem do pensamento e do conhecimento.

             Piaget ainda estabelece a indissociabilidade e irredutibilidade entre o desenvolvimento das estruturas individuais e coletivas, ou seja, entre as interações sociais - fatores exógenos - e as interações intraindividuais - fatores endógenos. Assim, discorda do argumento de Vygotsky de que existe uma evolução linear do desenvolvimento psicológico que vai da atividade individual para o social.
Para Vygotsky (PPT, 2018), a linguagem tem papel importante na formação do pensamento - compreendida na relação de síntese entre organismo e ambiente. Então, para o psicólogo bielo-russo, a construção do real acontece do social para o individual, sendo primeiro interpessoal e depois havendo a internalização; a aprendizagem é anterior ao desenvolvimento; e o pensamento e a linguagem são simultâneos.
Concluo, dessa forma, apreendendo que Piaget e Vygotsky afirmam a ação do meio social e cultural na explicação do desenvolvimento do pensamento infantil, em que a evolução do pensamento da criança se explica pela ação de fatores exógenos sobre os processos endógenos. E que a diferença entre os autores está no papel: dos fatores internos e externos, do processo de construção do real, da aprendizagem e da relação entre pensamento e linguagem.

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