O grande pesquisador das fases do desenvolvimento cognitivo infantil é
Jean Piaget, psicólogo que começou a se interessar pelo raciocínio das crianças
enquanto trabalhava em uma escola para meninos. Ele ficou curioso com o
raciocínio usado pelos meninos quando erravam as respostas das perguntas que os
professores faziam.
Ao observar diversas crianças durante o crescimento, inclusive seus
próprios filhos, ele postulou 4 estágios (ou fases) do desenvolvimento
cognitivo infantil.
Os dois primeiros estágios são bastante extensos, pois há uma grande
quantidade de habilidades sendo aprendidas nessas fases. No entanto, os últimos
dois estágios são extremamente importantes para a formação do pensamento
encontrado no adulto e dependem muito das habilidades adquiridas nos estágios
anteriores.
As fases do desenvolvimento infantil são:
Sensório-motor: de 0 a 2 anos
Nesta fase, a criança se concentra nas sensações e nos movimentos. Ela
começa a entender o que as sensações significam e como os movimentos dela podem
levar a alterações no mundo exterior.
Nos primeiros meses, o bebê ainda não tem controle consciente de suas
ações motoras. No entanto, com o passar do tempo, ele vai gradualmente ganhando
consciência de seus movimentos, e é aí que começa a festa: ele percebe que, se
esticar o bracinho, consegue puxar o móbile em cima do berço. A partir daí,
passa a testar as possibilidades de movimentação para ver aonde aquilo vai
chegar.
Vale lembrar que, nessa fase, a criança ainda tem dificuldades com tudo
aquilo que ela não pode ver, tocar ou sentir. A chamada permanência do
objeto ainda não existe, pois a criança não admite sua existência fora
do seu campo sensorial. Sendo assim, se os pais escondem um brinquedo, por
exemplo, ela não vai procurar. Pra ela, o brinquedo deixou de existir.
O mesmo acontece com as pessoas: se o bebê não vê a mãe, ela
automaticamente deixa de existir e começa a choradeira. A medida em que a
criança vai recebendo estímulos, ela passa a ter uma vaga noção de que objetos
fora de sua vista não necessariamente deixam de existir. É por isso que a
brincadeira do “cadê o bebê?” é tão divertida e saudável!
Pré-operatório: de 2 a 7 anos
Esse estágio se inicia com a capacidade do pensamento representativo, ou
seja, a criança começa a gerar representações da realidade no próprio
pensamento. É isso que possibilita a aprendizagem da fala (que começa bem mais
cedo, mas se desenvolve mais rapidamente aqui) e as brincadeiras de “faz de
conta”.
Vale lembrar que essa fase é marcada por um egocentrismo evidente, mas
isso não significa falha de caráter, fazendo parte do
desenvolvimento cognitivo típico de qualquer criança. Ao falar, ela fala
sozinha e poucas vezes considera aquilo que foi dito para ela.
Com isso, há também uma necessidade de “dar vida” às coisas: para as crianças
nesse estágio, uma bola rolando faz isso porque tem vontade, não porque está em
uma superfície íngreme ou porque uma força foi aplicada, tirando-a da inércia.
Ela também acredita que as coisas acontecem para si mesma. Na mente das
crianças dessa idade, o sol se põe para que elas vão dormir, não porque o dia
acaba naturalmente.
Voltando ao pensamento representativo, é justamente ele que permite o
desenvolvimento do pensamento lógico posteriormente. Nessa fase, a criança pode
se confundir com números e quantidades.
Um exemplo é quando colocamos a mesma quantidade de suco em copos de
formatos diferentes: um fino e longo, outro largo e curto. Por mais que seja a
mesma quantidade, o nível do suco no copo fino fica acima do nível no copo
curto. Para as crianças nesse estágio, isso quer dizer que tem mais suco no
copo fino, mesmo que antes elas tenham visto que se trata da mesma quantidade!
Outro exemplo: se eu pegar dois biscoitos para mim e der apenas um
biscoito para ela, a criança ficará chateada achando que tem menos. De fato,
nesse caso, ela está certa. No entanto, se eu dividir o biscoito dela ao meio
ao invés de dar um novo biscoito, ela achará isso justo. Isso acontece pois,
para ela, parece que nós dois temos dois biscoitos, mesmo que as metades do biscoito
dela sejam consideravelmente menores que os meus.
Por isso, se o seu filho pequeno dá respostas erradas em exercícios que
medem quantidades, volumes e tamanhos, não se preocupe: ele está se
desenvolvendo normalmente, apenas passando pelo período pré-operatório no qual
a lógica ainda está sendo formada!
É também nesse estágio que as crianças começam a entender o que é certo
e o que é errado, o que podem e o que não podem fazer. No entanto, ao serem
apresentadas a uma nova situação inusitada, elas ainda não são capazes de
julgar moralmente o problema, fazendo aquilo que têm vontade (independente de
ser certo ou errado).
Por isso, pais e mães devem ter paciência com as crianças nessa fase.
Ela ainda tem muito a aprender e não adianta brigar quando ela faz algo de
errado: ela simplesmente não é capaz de perceber sozinha que não pode.
Operatório concreto: de 8 a 12 anos
Marcado pelo início do pensamento lógico concreto, as crianças passando
por esse estágio começam a manipular mentalmente as representações das coisas
que internalizou durante os estágios passados. O problema é que essa
manipulação só pode ocorrer com coisas concretas, dispostas no mundo real.
Conceitos abstratos ainda não são compreensíveis.
Lembrando do exemplo dos copos de suco, a criança nessa fase já
compreende que os dois copos têm a mesma quantidade de suco, ou seja, ela tem a
noção de conservação. Quanto ao biscoito, ela também entende que
duas metades de um biscoito não equivale a dois biscoitos. Prepare-se para ter
que dividir mais biscoitos com seu filho, porque essa desculpa não vai mais
colar!
Aqui, já há uma maior compreensão do que é moral. As regras da sociedade
começam a fazer sentido e, em situações simples, a criança já é capaz de, por
si só, julgar o que seria correto fazer.
Operatório formal: a partir de 12 anos
O último estágio postulado por Piaget tem seu início já na
pré-adolescência, quando a criança é capaz de manipular, também, representações
abstratas, fazendo operações com conceitos que não possuem formas físicas, como
certos conceitos matemáticos.
Nesse estágio, as crianças começam a entender o mundo pelos olhos de
outras pessoas: elas passam a compreender experiências que elas mesmas não
vivenciaram em primeira pessoa. Na verdade, esse processo já começa durante o
período operatório concreto mas, como o nome já diz, só serve para objetos
concretos. Já nesse novo estágio, a criança passa a entender o ponto de vista
dos outros a respeito de conceitos abstratos.
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