Crianças não nascem sabendo falar, e isso não é surpresa
para ninguém. A fala, assim como a cognição, não surge da noite para o dia: ela
também vai chegando por meio de estágios.
Entretanto,
não conseguir falar é diferente de não conseguir se comunicar. A comunicação
entre cuidador e bebê é, na maioria das vezes, muito bem estabelecida. Quantas
vezes você não viu uma mãe reconhecer a necessidade do pequeno só pelo choro?
Pois bem, desde o começo ele já vai criando uma espécie de linguagem própria,
ainda que não use as palavras.
O
problema é que nem todo mundo entende essa linguagem do bebê e, a medida em que
cresce, ele precisa aprender a se adaptar ao mundo à sua volta. Com isso, ele
passa a aprender a língua do lugar em que vive ao longo de dois estágios: o
pré-linguístico e o linguístico.
Estágio
pré-linguístico
Este
estágio ocorre antes da criança conseguir falar as primeiras palavras. Durante
esse tempo, ela costuma usar muito o choro para se comunicar. Muitas vezes, nem
o bebê sabe muito bem porque está chorando.
Para
ele, a fome é apenas uma sensação desconfortável, não sendo muito diferente da
dor da cólica. Com a ajuda da mãe, ele mesmo vai aprendendo o que é o que: se a
sensação ruim passa depois de se alimentar, então é fome. Assim, ele cria um
choro específico para essa sensação, a medida em que vai aprendendo a
diferenciar o que sente.
Com o
tempo, ele começa a produzir sons chamados “arrulhos”, sons guturais (saem
diretamente da garganta) que dão a base para que ele aprenda a usar as cordas
vocais. Por volta dos 6-10 meses, o bebê passa a balbuciar e repetir sons de
consoantes e vogais.
É
nessa fase que ele começa a falar “mama”, “papa” e “dada”. Não raramente, os
pais confundem isso com suas primeiras palavras, quando na verdade o próprio
bebê não faz muita ideia do que aquilo significa. Ou seja, nem sempre que a
criança fala “mama”, ela está chamando a mãe. Muitas vezes, está só
experimentando suas cordas vocais.
No
final do primeiro ano de idade, a criança já tem uma noção básica dos sons
usados na linguagem, o que dá a base para que ela possa efetivamente aprender a
falar. É nessa hora que ela realmente começa a aprender suas primeiras
palavras.
Estágio
linguístico
Lá
pela metade do segundo ano de vida (18 meses), a criança já consegue usar
combinações de sons para se referir a pessoas, objetos, animais e até mesmo
acontecimentos. Nessa época, estima-se que ela tenha um vocabulário de cerca de
50 palavras, mesmo que elas estejam erradas.
O
curioso é que, nessa fase, uma única palavra tem o valor de uma frase inteira.
Um exemplo é quando ela aponta para fora de casa dizendo “ua”. Os pais entendem
que essas duas letrinhas significam “eu quero ir para a rua”, ou “quero ir
passear”. A esse fenômeno dá-se o nome de “holófrases”.
Ainda
nessa idade, são frequentes trocas e omissões de letras, como no exemplo citado
da “rua sem r”.
Ao
final dos 2 anos de idade, espera-se que a criança tenha um vocabulário de mais
de 100 palavras e, entre os 2 e 3 anos, ela começa a aprender as regras
gramaticais e a trocar menos as letras. Aos 6 anos, já consegue falar frases
longas e busca sempre empregar as regras gramaticais corretamente.
Gênese da
linguagem: como a criança aprende?
Apesar
de sabermos que a linguagem está sendo desenvolvida pelo que a criança
demonstra externamente, não sabemos muito bem como esse aprendizado se dá. No
entanto, diversos teóricos tentaram explicar isso.
Um
linguista chamado Chomsky acredita que parte do aprendizado é biologicamente
determinado, ou seja, ocorre de maneira nativa. A criança vai aprendendo a
falar porque seu organismo se desenvolve, possibilitando a fala.
Já
Skinner, um grande psicólogo comportamental, defendia que a linguagem era
obtida pela experiência. A medida em que a criança experimentava a linguagem
com seus pais e com outros adultos, ela ia aprendendo.
Piaget,
já citado, traz uma terceira visão que reflete melhor o que vemos na prática: o
aprendizado da linguagem ocorre por meio das interações entre a criança e o
mundo. Ele se dá juntamente com o desenvolvimento cognitivo, e é baseado tanto
em pressupostos biológicos quanto interacionistas.
Com
isso, fica mais claro que a criança precisa
do estímulo dos pais para aprender a falar. Suas primeiras sílabas
são, de fato, imitações dos sons que os pais emitem perto dela. Isso deixa
claro como é preciso que haja alguém a estimulando para que a criança possa
aprender a falar de fato.
Comentários
Postar um comentário